Muhpanzinho e a máquina do tempo
Uma viagem pela história do Pantanal
Muhpanzinho é um menino pantaneiro. Nasceu na fazenda, mas, hoje vive na cidade bem pertinho do rio Paraguai. O pai dele era peão boiadeiro. A mãe ficava em casa o dia todo e enchia Muhpanzinho de carinhos e comidas deliciosas. Mas o que ele gostava mesmo era de quebra-torto todos os dias bem cedinho. Antes mesmo de o sol apontar lá no horizonte.
Ele também gostava de brincar de super-herói. Era só colocar a faixa pantaneira que seu avô lhe deixou de herança, e logo se sentia com super poderes. Ia até para o colégio com a faixa na cintura.
Aquele dia parecia um dia igual aos outros. Acordou cedo e já estava na mesa comendo seu quebra-torto com arroz carreteiro e farofa de banana, quando ouviu um zúm-zúm-zúm lá fora.
Eram seus amigos, todos muito agitados com a notícia estranha.
__ É verdade Muhpanzinho. Tem uma máquina estranha pousada lá no Porto bem na beirinha do rio Paraguai.
__ Será ???!!! Respondeu Muhpanzinho, mais duvidando que acreditando na novidade.
__ Verdade! Vai lá ver. Todos nós vimos. Mas ninguém teve coragem de entrar. É uma máquina grande, cheia de janelas e várias turbinas que cospem fumaça.
Muhpanzinho, acreditando nos seus super poderes, foi correndo ver de perto a novidade.
Chegando ao Porto sua boca aberta não acreditava no que os seus olhos arregalados estavam vendo. Era mesmo uma máquina, parecendo nave voadora e estava ligada, pronta para voar.
Muhpanzinho, que estava com sua faixa pantaneira na cintura, cheio de poderes, não teve medo e, curioso, se aproximou da porta aberta e entrou na máquina.
A porta se fechou atrás dele e a máquina falou para Muhpanzinho:
__ BEM VINDO À MÁQUINA DO TEMPO ! PREPARE-SE. VOCÊ VAI VIAJAR PELA HISTÓRIA DO PANTANAL. EU SOU UMA MÁQUINA DE VOLTAR NO TEMPO.
Que menino corajoso o Muhpanzinho. Não teve medo e curioso aceitou viajar no tempo.
Os motores se aceleraram. Muita fumaça saindo das turbinas e o Muhpanzinho, na janela, viu que a máquina estava voando e inesperadamente, mergulharam nas águas do Pantanal. Muitos peixes, pássaros e até uma cobra gigante passou bem perto da janela de Muhpanzinho.
O menino pantaneiro estava se divertindo muito quando a máquina saiu do fundo das águas e pousou na barranca de um rio.
Muhpanzinho foi lá pra fora e encontrou um indiozinho desenhando na rocha.
__ Olá? O que você está desenhando amigo? Perguntou querendo fazer amizade.
__ Bichos. Respondeu o indiozinho.__ Mas também o sol e a lua; caminhos que me levam de volta até a aldeia dos meus pais.
__ Que legal. Minha mãe não me deixa desenhar nas paredes nem nos muros lá de casa.
__ Mas eu preciso ir embora. Respondeu o indiozinho encerrando a conversa. __ Já vai começar a aula de catequese lá na Missão onde eu moro com meus irmãos.
__ Posso ir com você? Perguntou Muhpanzinho.
__ Vamos. Respondeu seu novo amigo.
Quando chegaram na Missão encontraram o padre juntando as crianças para iniciar a aula do dia e convidou Muhpanzinho para ficar e participar.
Muhpanzinho olha... Pensa... mas agradece:
__ Prefiro continuar minha viagem.
O indiozinho se despede de muhpanzinho e diz baixinho no seu ouvido:
__ Um dia, lá na frente, você vai descobrir os segredos dos meus desenhos e do meu povo nesta pedra.
Muhpanzinho entra novamente na máquina do tempo e continua a sua viagem. Sente sua boca seca. Tem sede e pede para a máquina pousar numa cachoeira lá em baixo:
__ Ta parecendo água fresca e limpa.
Ao desembarcar da máquina voadora ele encontrou um acampamento montado e muitas canoas grandes presas na beira do rio. Mas não vê ninguém. Aproxima-se da margem para matar a sua sede e derrepente... Leva uma varada de pescar na cabeça.
__ Ai! Grita muhpanzinho.
Era Bentinho, um mulatinho, escravo daquela expedição acampada que gritou:
__ Você vai espantar os peixes.
__ Desculpa. Respondeu Muhpanzinho. __ Só queria beber água
__ A noite já ta chegando e eu ainda não pesquei nenhum peixe pro meu dono jantar.
__ Dono? Você tem dono? Perguntou Muhpanzinho.
__ Tenho sim. E ele fica muito bravo quando está com fome. Eu não fritei nem um lambari ainda.
__ Nossa. Então você é um.......???
__ Escravo. Sou sim. Já nasci escravo.
__ Caramba! Isso aqui ta parecendo livro de história. E coçou a cabeça pensativo.
__ Vai, vai, vai logo embora daqui. Se Dom Manuel volta, te faz escravo dele também.
Muhpanzinho voltou correndo para dentro da máquina do tempo. Ele estava gostando da viagem mas começou a sentir saudades de casa e mais ainda da sua mãe. E perguntou para máquina:
__ Tem celular aqui? Preciso ligar pra minha mãe.
A máquina do tempo solta uma gargalhada e respondeu:
__ Celular? Ainda não. Mas logo ali na frente tem um Posto de Telégrafo do Rondon. Telégrafo é o avô do telefone. Serve?
__ Hummm, acho que sim... Preciso avisar minha mãe que estou bem.
A máquina atende ao pedido de Muhpanzinho e pousa novamente. Desta vez, ao lado do Posto da Manga, uma casinha de madeira bem bonitinha.
__ Bem vindo Muhpanzinho ! Eu sou o Rondon. O patrono da Comunicação no Brasil. Em que posso ajudá-lo?
__ Muito prazer seu Rondon. Mas eu preciso mesmo é falar com minha mãe? O senhor tem telefone aí?
Rondon coçou a barba e meio constrangido disse:
__ Bom. Telefone ainda não. Mas tenho o telégrafo que pode enviar uma mensagem para sua mãezinha lá em Corumbá.
__ Então ta Seu Rondon... O senhor diz aí pra ela não se preocupar que eu estou bem e já to voltando pra casa.
Enquanto Rondon enviava a mensagem para sua mãe, Muhpanzinho sentou no degrau da escada do Posto do Telégrafo e ficou admirando uma linda ponte de ferro que cruza o rio de um lado ao outro. Neste instante, ouviu o barulho de trem se aproximando e não acreditou no que viu.
Esfregou os olhos com força para ter certeza de que não estavam embaçados e olhou mais uma vez. Mas era aquilo mesmo.
Era um trem cheinho de passageiros na janela, dando tchauzinhos para Muhpanzinho.
__ Seu Rondon ! Seu Rondon! Gritava Muhpanzinho espantado. __ Trem carrega gente? Perguntou espantado.
__ O Trem do Pantanal carrega gente sim Muhpanzinho.
__ Mas eu achava que trem só carregava minérios.
__ Nâo. Respondeu Rondon.__ Olha lá a alegria daquelas pessoas viajando no Trem do Pantanal.
Muhpanzinho já tava ficando confuso por demais e pediu para a Máquina do tempo levar ele de volta para casa.
Mas a máquina respondeu:
__ Não vaio dar. Acabou meu combustível Muhpanzinho.
__ E agora ???!!! Desesperou-se o menino pantaneiro.__ Onde a gente arruma esse combustível? Eu vou buscar?
__ Calma Muhpanzinho... o combustível que me faz funcionar não é gasolina.
__ E o que é então? Preciso voltar pra casa agora. Já apavorado.
__ É a MEMÓRIA Muhpanzinho! É a HISTÓRIA. É o seu PASSADO.
Muhpanzinho aflito e preocupado diz:
__ Danou-se então. Não prestei muita atenção nas aulas de História lá do colégio...
E começou a chorar... chorar...e chorava muito quando...
...........................
__ Muhpanzinho! __ Muhpanzinho, acorda meu filho. Já está na hora de levantar e ir para escola.__ Vamos... levanta logo seu preguiçoso. Lembra que hoje você vai com a professora e a turma lá do colégio visitar o Museu de História do Pantanal.
Muhpanzinho acordou todo feliz e lembrou-se do sonho que teve e perguntou para sua mãezinha:
__ Mãezinha, você sabia que trem já carregou gente?
A mãe de Muhpanzinho sorriu e toda carinhosa preparou o lanche dele e lá foi Muhpanzinho fazer mais uma viagem pela história do pantanal.
F I M !
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