tudo em mim aconteceu
noutro ontem que fui eu.
ainda, dentro de você,
vejo outros em nós dois:
vejo nós
feitos
cegos e
apertados.
atados num ato doido
fácil e fundo.
vejo tudo num nada por segundo.
nunca quis, preso, em ti ficar.
fugia sempre em dias de visitas
em filas;
mulheres e marmitas cheias,
em filas.
domingos,
em filas.
segundas,
em filas.
terças..
“vamos fumar um?”
dois e três... um?
talvez...
nunca mais vou dormir profundo
sonhando você desenhando ao meu lado.
acordo nunca.
sonho nunca.
nós nunca
mais.
nunca mais outra vez?
sempre ainda vou dizer.
sempre amor vou proclamar.
sempre perdão vou dilatar.
sempre beijos vos negar.
sempre ainda desejar
um abraço seu me sufocar,
arte sua me maltratar.
ainda ontem
quis, menino, te abraçar.
ainda ontem...
você fugiu.
ainda ontem ninguém viu
o muito que nos uniu.
( “Se as ideias não nasceram de nenhuma experiência, então são sem importância. Devemos evitar generalizações como “tudo”, “nunca”, “sempre”, e evitar a busca pela universalidade dos conceitos, como faziam Platão e Aristóteles. Estas afirmações não podem corresponder à realidade, que é sempre plural, diversa, ao mesmo tempo particular, individual, então a base universal da racionalidade é um equívoco.”) Viviane Mosé em O Homem que Sabe.
ainda ontem
mesmo
tomei consciência bruta
do quanto me equivoquei
sempre que
abruptamente
me deixei de você.
ainda ontem um equívoco,
abrupto
com cobertura caramelada
de racionalidade.
matam-me, sempre, os teus artistas.
plurais
equívocos,
de uma singular razão.
ter-se.
sem
estar-me.
20 de março de um 2012 quente e seco: outonices.