brincar até o mundo acabar
sorrir até o mundo parir
esquecer até me lembrar
andar até que ronde
pulsar até que morra
morrer até que nasça
nascer até que engasgue
comer até que tenha fome
fingir até que pareça sério
correr até que cansado, sente
beijar até que molhado, se seque
arroz até que feijão em alho queimado
piscina mesmo em dia cinza
pão mofo
até que mãos toquem
toquem os sinos
toquem as maçãs
toquem os joelhos
troquem o dinheiro
quero troco
até seu moço
até seu dia
até um dia
até que fique carne no pescoço
até que
eu
vivo
morto
encare teu rosto
sem dó
nem
medo
em frangalhos
desossado de uma mente pura
e nutra
por ti
ainda que sem ti
mas
todavia longe
distante
de toda atenção
sofrida
diluída em dias
gastos
no pasto
eu coma
eu chupe
eu beba
eu mate
coma eu
chupe eu
mate eu
mate leão de erva preta
chupe bala doce com corante azul escarlate
beba cruel teu leitinho
como mansinho teu macarrão instantâneo
em dias
passados assim
enfim
passados
de longe
nem o cheiro
de longe nem os passos
me levam de volta de onde eu vim
nem você
monstro manso interior
desperta em
antártica gelada
me lava
pra terra do desamor
não volto
não me levem
me queimo ao pensar
vítima do desassossego
sossego ao lembrar
passos no escuro
escureço ao pensar
laranja
laranjado
perturbado
perturbado alaranjado
paulado